Quando comandava um pelotão em uma unidade militar, recebi a incumbência de preparar o pelotão, sob meu comando, para uma marcha de 52 km. Este evento é muito comum e faz parte do programa de treinamento da tropa, como forma de simular um deslocamento com todos os equipamentos de combate, incluindo o fuzil e um cantil cheio de água. Para minha surpresa, ao iniciarmos a marcha, em menos de 15 minutos de caminhada, em fila indiana, alguns colegas oficiais começaram a entoar gritos de guerra para " motivar" os soldados. Confesso, que achei aquilo estranho, haja vista que, ao meu entendimento, aquilo destoava do objetivo fundamental do exercício, o qual seria de caminhar em silêncio, expondo o recruta ao esforço físico e as dificuldade de um deslocamento com todo seu aparato. Para completar, não entendia o motivo da gritaria e cantorias, pois uma semana antes tivemos um treinamento de acuidade auditiva e visual, indicando que um bom deslocamento deveria ser em silêncio para não alertar os inimigos.
Bem! Comparando a minha experiência com a marcha militar, observo que a ações motivacionais utilizadas pelas empresas estão na mesma linha das cantorias dos recrutas. Os empresários ou equipes de recursos humanos preparam palestras show, focando apenas nos mecanismos de excitação. As palavras de ordem sempre são: sucesso, vitória, superação e trabalho em equipe, apesar deste último ser o mais abordado e o menos praticado e estimulado. O mais curioso ainda, é a exposição à luz, música e som que inunda o cérebro dos funcionários e colaboradores durante as apresentações cinematográficas. Uma beleza de espetáculo! Um verdadeiro “natal” fora de época. O mais lamentável, é que todo este jogo de cena não consegue gerar resultados percebidos pelas empresas e muito menos pelos seus profissionais.
Sinceramente, acredito que empresas sustentadas pelo jargão: “precisamos fazer alguma coisa”, estão fazendo qualquer coisa. Sendo assim, eu sugiro outras duas abordagens:
“Fazer o que deve ser feito”;
“Se for fazer alguma coisa sem resultado, é melhor não fazer nada”.
Na realidade, deve-se entender o conceito e o objetivo das coisas e, muito mais ainda, o significado do trabalho, em si. Apesar do próprio nome relembrar um instrumento de tortura, o trabalho deve ser celebrado como uma das coisas fundamentais e importantes para uma vida saudável e equilibrada. Todo ser humano deseja fazer e participar de algo útil e, de alguma forma, significativa para os seus semelhantes. Dentro deste espirito, confesso que esta cada dia mais difícil identificarmos boas ações motivadoras.
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