A Mente Confusa

"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo pareceria como realmente é, infinito"
William Blake

Introdução

Ao longo de uma trajetória de vida, todos nós nos deparamos com o nosso próprio eu em algum momento. Isso pode acontecer em qualquer fase, na adolescência é um pouco complicado, já na fase adulta parece ser mais seguro, pois já contamos com um conjunto de experiência as quais auxiliam as nossas decisões e reações. Independentemente disso, tomar consciência da sua verdadeira natureza e de seu papel em mundo com 6 bilhões de habitantes, revela-se uma tarefa árdua. As angústias, juntamente com uma avaliação distorcida da realidade, resulta em inúmeros questionamentos sem respostas. Quando nos deparamos com esta situação, naturalmente somos impelidos a um estado de desconforto onde rapidamente nos tornamos tristes, melancólico e na maioria dos casos deprimidos. Para agravar ainda mais, equivocadamente, nestes momentos comparamos o nosso estado de "espirito" com o de outras pessoas a nossa volta ou mesmo com alguns personagens da ficção apresentados em revistas, televisão,cinema e videogames. Desta forma, simplesmente concluímos que o sentimento de insatisfação percebido afeta apenas a nós mesmos, dando uma falsa impressão de vazio existencial. Assim, silenciosamente iniciamos um processo de introspecção pouco revelador.


Em estágios avançados de angustia profunda, percebemos a necessidade de procurarmos algum especialista. Neste momento, se tivermos sorte, encontraremos um profissional interessado em nosso caso, porém, independente disso, os resultados de suas anamineses indicarão geralmente dois diagnósticos: presença de distúrbios orgânicos resultante do stress ou falta de atitude e coragem diante do mundo. A partir deste parecer insólito, consolidamos uma visão concreta sobre o mundo que nos cerca e a partir de então, definitivamente, nos desligamos da realidade. Aceitamos o vazio e as questões como passagerias e desenvolvemos um cinismo extremado, ao qual chamaremos de realismo. Aliás, é muito comum os cínicos e os pessimistas autodenominarem-se de realistas.



Com base nesta falta de percepção da realidade, devemos compreender uma coisa muito importante e que será tratada neste texto:

"a concretude do mundo não significa a sua realidade, pois na maioria das vezes a nossa percepção está estruturada sobre conceitos distorcidos logo, o concreto não é necessariamente o real".



Apesar dos nossos questionamentos serem uma coisa natural, as respostas corretas a eles estão intimamente ligadas a nossa percepção da realidade. Para evoluirmos nesta discussão e podermos lidar melhor com os nossos momentos de profunda reflexão, será necessário compreendermos claramente alguns conceitos fundamentais e determinantes para a correta percepção da realidade a qual precisamos vivenciar e sentir. Felizmente podemos tomar consciência disso, mas há muitas coisas dispersas em nossas mentes que dificultam um entendimento mas profundo desta idéia. Entretanto, podemos ficar tranquilo pois isso não é uma culpa estritamente nossa, mas sim a ação de alguns fatores ambientais de onde estamos inseridos, por exemplo:

- bombardeamento de informações e noticias periódica, pontuais e desconexas;

- preceitos familiares antigos ou incompatíveis com a situação tecnológica e cultura do instante;

- modelo de educação formal;




Entre tantos outros fatores que poderíamos ainda citar, o mais impactante é sem dúvida o modelo educacional. Muitos anos de nossas vidas ficamos imersos no ambiente escolar, o nosso sistema educacional acaba sendo o principal responsável pelo desenvolvimento de uma mente confusa. Ao invés de exercitarmos o aprendizado da lógica e das diferentes formas de pensar, nas escolas vivenciamos a formatação de uma mente alienada e enquadrada em conceitos sociais pré estabelecidos. Somos forçados a pensar que nascemos em um mundo no qual não poderemos alterar nada. Evidentemente isso é contraditório pois, em nossos momentos de reflexão mais profundas, os primeiros questionamentos referem-se sempre ao nosso desajuste diante do mundo concreto percebido. Obviamente, entende-se que os instantes de reflexão profunda sempre serão únicos para cada ser, porém a percepção da realidade deverá ser única para todos.



Os questionamento que resultam de nossos momentos reflexivos são fundamentais para o autoconhecimento. A temática não é nova e já foi discutida sob vários pontos de vista, inclusive o mais inapropriado, o do existencialismo por si mesmo, de Sartre. Esta linha de pensamento difundida no século XX, além de não responder as nossas perguntas, posicionou o fato de existir como uma dicotomia da não-existência. Cotidianamente quando refletimos, a frase sheakesperiana "Ser ou não ser, eis a questão" sempre surge em nossa mente, reiterando a ideia do existencialismo dual. É interessante destacar que na obra do poeta inglês, o autor da frase, Hamlet, elabora o seu diálogo quase que totalmente com um ser etéreo. Sob este foco, fica claro a importância de compreendermos a diferença entre o concreto e o real.



Embora pareça um assunto complexo, atualmente, com o que já foi escrito e estudado sobre o ser humano e a natureza, é possível organizar o pensamento de forma a estruturar melhor a forma de vermos a nós mesmos. Para isso, nos próximos textos discutiremos alguns pontos fundamentais para a compreensão de nossas vidas e o de seu significado. Abordaremos temas como: verdade, individualidade, consciência e finalmente a realidade. A partir disso, acredito que poderemos reeditar a nossa visão e libertar a nossas mentes do mundo restritivamente sensorial e intelectual onde estamos presos.

To be continued.....

2 comentários:

  1. Grande Adilson, um prazer reencontrá-lo, mesmo que no mundo virtual...

    há braços

    Mateus Carneiro

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  2. Dois pensamentos para meu grande amigo Adilson.

    Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.(Oscar Wilde)

    "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.
    Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".(Fernando Pessoa)

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